sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Crenças, Ensino e Aprendizagem

Há quem acredite que o ser humano quando nasce é uma folha em branco. Essa posição, na ciência, é assumida como empirismo. Os que assim pensam, repito, acreditam que a criança, ao nascer, nada sabe. Todo o conhecimento lhe será acrescentado. Logo, aprenderá as coisas desta vida com outros, por transmissão.

Há quem acredite no contrário: a criança, ao nascer, sabe tudo. Nasce pronta. Para os inatistas, o meio apenas confirmará na criança as suas virtudes ou os seus defeitos, bondade ou maldade, talento ou limitação.

De outro lado, há os que acreditam que se nasce com algum conhecimento. Que os seres humanos, ao nascer, trazem algo inscrito nas suas cadeias genéticas. Não se sabe tudo, tão pouco nada. Sabe-se algo. Para os construtivistas, o conhecimento constituir-se-á nas relações.

Confesso que me sinto órfão com a visão empirista. Assume-se uma ideia muito incipiente do ser humano. Nada sabe. Essa alvura parece-me sinalizar para coisa pior, a de que somos todos iguais e, por consequência, raciocinamos e agimos da mesma forma, de que aprenderemos todos do mesmo jeito, de que é possível ensinar alguma coisa para alguém sem considerar o seu interesse.

De outro lado, a visão inatista leva-me a pensar que o nosso destino está traçado. Seremos bons ou maus porque assim nascemos. Acaba por nos retirar o direito de desenvolvimento, a autonomia, também os deveres…

Logo, a minha inclinação é por uma visão construtivista, ou do tipo construtivista. Nascemos alguém, mas incompletos. O que nos falta está no meio: ar, alimento, carinho, conhecimento. A vida, desse ponto de vista, será um constante encontro. Um complementar-se. Nem completos, tão pouco rasos. Nas relações com os objectos e com as pessoas, respeitada a nossa individualidade, que aprenderemos isso e aquilo. Nesse sentido, uma regra é básica: ao ensinar é preciso considerar o nível de desenvolvimento e as experiências (a história) de vida da criança!

Para ser breve: conforta-me saber que o meu destino não está determinado. Se assim fosse, quantos desastres estariam por acontecer? Se queremos um talento, clone-se logo um craque! Se queremos uma boa pessoa, clone-se um altruísta! Se queremos um génio, clone-se um! Pronto, acabou a graça. Estabeleceu-se a exclusão. O poder, cada vez mais, na mão de poucos.

Agrada-me também a ideia de que não aprenderei apenas por transmissão cultural (ainda que no empirismo alguém ensine por transmissão há uma construção de conhecimento!). Imagine: e se deixarem de me ensinar o que preciso para progredir? E se me ensinarem o errado? E se não souberem o que me ensinar? E se me ensinarem a não aprender?

Sobretudo, parece-me precioso acreditar na ideia de que posso me desenvolver. Aí, permito-me sonhar. Daí é um passo para abandonar ideias, construir novos mundos, tempos, movimentos. Todas essas coisas têm a ver com o professor/treinador e o seu trabalho com as crianças, com o ensino e a aprendizagem no desporto, por exemplo. Não fica difícil associar uma coisa à outra. Posso deduzir que a maneira como o professor/treinador pensa e se posiciona, acreditando numa ou noutra concepção, determinará seu modo de ensinar

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